segunda-feira, 14 de março de 2011

Um pouco de Anderson Braga Horta

Alaor Barbosa



Costumam historiógrafos e estetas dizer que as literaturas amanhecem com a poesia. A ficção vem depois. E por último a História. Em Brasília a literatura começou e aconteceu parcialmente de acordo com essa fórmula: a poesia começou com a cidade, mas a História também.
Os primeiros poetas que vieram para Brasília trouxeram em si um poderoso talento criador. O pioneiro acho que foi Antônio Carlos Osório, um advogado que chegou ainda na fase da construção (acho que em 1958). Ele veio do Rio Grande do Sul trazendo consigo, na garupa, o poeta que é. Quase ao mesmo tempo que ele, de perto de Brasília - de Jataí e de Goiânia -,  chegou o goiano  José Godoy Garcia. Os mineiros, que não podiam faltar, vieram já depois da inauguração: Joanyr de Oliveira e Anderson Braga Horta.
Feliz e privilegiado começo para a poesia de um lugar!
 Hoje falo de um dos livros de Anderson Braga Horta, um poeta mineiro de Carangola que passou parte da infância na Cidade de Goiás, um bom trecho da adolescência em Goiânia, um pedaço importante da juventude no Rio de Janeiro e se fixou para sempre em Brasília já no ano da inauguração. A densa consistência anímica de Brasília ele tem contribuído decisivamente para construir. É uma poesia fundadora de uma tradição que se revela poderosamente expressiva desde a sua fundação: a poesia de Brasília nasceu madura e plena.
Deve-se assinalar que na construção dessa tradição já rica da poesia de Brasília também colaboraram o pai e a mãe de Anderson com valiosas produções. O pai, Anderson de Araújo Horta, com o livro Invenção do Espanto; e a mãe, Maria Braga Horta, com o livro Caminho de Estrelas. Ambos os livros constituídos de poemas coligidos e editados, com filial carinho e respeito, pelo filho Anderson – que também nestes atos de publicar os poemas paternos e os maternos revelou a grandeza de sua alma de poeta.
A trajetória criadora de Anderson Braga Horta é abundante em criações poéticas de ótima qualidade. Alguns dos seus livros, além de Pássaro no Aquário: Altiplano e outros poemas (obra de estréia); Marvário;Incomunicação; Exercícios de homem; Cronoscópio; O Cordeiro e a Nuvem; Coloquio dos Centauros; Dos Sonetos na Corda de Sol; Pulso; Quarteto Arcaico; Fragmentos da Paixão: Poemas Reunidos; Antologia Pessoal; 50 Poemas Escolhidos pelo Autor.
Vou falar agora de um dos livros de poesia de Anderson Braga Horta.. 
 PÁSSARO NO AQUÁRIO é um pequeno livro com muita poesia. Dizer poesia é dizer boa poesia, pois má poesia poesia não é. A poesia de Anderson Braga Horta neste volume editado em 1990 por André Quicé Editor (pseudônimo comercial do escritor Alan Viggiano), de Brasília, apresenta esta característica própria da verdadeira poesia: diz verdades (não foi sem motivo que Goethe denominou sua autobiografia  Aus meinem Leben. Dichtung und Wahrheit, Da minha vida. Poesia e verdade.) com máxima economia de meios; revela o mundo em uma linguagem concisa, sem palavras inúteis ou desnecessárias. A coisa expressa é verdadeira, é a verdade do poeta. E dita com precisão.
Neste pequeno volume de ótima poesia, as verdades que diz são não digo autodefinições, mas autodescrições – confissões – em muitos poemas, e verdades da visão do mundo em outros. A linguagem é trabalhada, com o intuito de achar a necessária concisão. Repito: nem uma palavra a mais, nem uma palavra desnecessária. Da espécie de poemas confessionais, são perfeitos exemplos o poema que abre o volume, “Eus”, cuja primeira estrofe diz: “Nesta luta de mim contra mim mesmo / sou D. Quixote e sou meu Sancho Pança. / Não tão magro Rocinante, me levo. / E contra mins de vento / arremeto-me lança”; e o poema “Elegia de Varna”: “Sinto que algo ficou irrealizado em mim. / Nota que vibraria o meu ser íntegro como um sino / e que não se feriu. / Adivinho-lhe a corda oxidando-me o peito. / Tocá-la tornaria os veios de ferrugem / nos rios mágicos do êxtase / e então eu seria eu / e não esta véspera encolhida”. 
Não é só poesia que ele cria: há em sua rica bibliografia publicada contos e textos críticos. Sua obra crítica está principalmente em Testemunho e Participação (Ensaio e Crítica Literária e em Criadores de Mantras (Ensaios e conferências).
 Anderson é considerado, com unanimidade, um patrimônio fundamental da vida espiritual de Brasília.

ALAOR BARBOSA, jornalista e advogado, é autor de Contos e novelas reunidos e, inédito, A guerrilha da Serra de Caldas;  e dos romances Vozes e silêncios em Imbaúbas: a morte de Cornélio TabajaraMemórias do nego-dado Bertolino d’Abadia; Belinha: uma lenda; Eu, Peter Porfírio, o maioral; e, a sair, Vasto mundo. Membro da Academia Goiana de Letras e da Academia de Letras do Brasil e do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.


imagens retiradas da internet

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