sábado, 14 de abril de 2012

O menino se admira, poema de Antonio Carlos Secchin

vieira_silva9g.jpg                                                                                                            A Bella Josef

O menino se admira no retrato
e vê-se velho ao ver-se novo na moldura:
é que o tempo, com seu fio mais delgado,
no rosto em branco já bordou sua nervura.

E por mais que aquele outro não perdure,
quase sombra no relâmpago desse ato,
ele há de ver-se mais antigo no futuro,
vendo ver-se no menino do retrato.

É que o tempo, de tocaia em cada corpo,
abastece a manhã com voz serena,
que pouco a pouco se transmuda em voz de corvo,

na gula aguda de ficar sozinho em cena.
A moldura vazia denuncia o intervalo:
sobra o tempo, e nada ou ninguém para habitá-lo.


imagem retirada da internet: bibliotéque en Feu, maria helena viera da silva

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