quarta-feira, 26 de junho de 2013

O silêncio dos intelectuais, Fabio Coutinho


foto: Estadão
                                                                                       

As grandiosas manifestações das duas últimas semanas, em centenas de cidades brasileiras, nos oferecem a oportunidade ímpar de ouvir a voz ao povo devida, de participar civicamente, de engrossar as fileiras de uma causa moderna, consequente e bela.

No caso dos intelectuais (aí incluídos os escritores), é a hora não só de refletir, como, de resto, devemos fazer em caráter permanente, mas também de transitar do pensamento à ação, de justificar sem reservas nossa designação genérica de atores do processo histórico, à medida que escrevemos, publicamos e almejamos ser lidos.

Se a opção preferencial for pela permanência na torre de marfim, pela eloquência de um silêncio obsequioso e narcísico, o trem da história passará, e correremos o risco de perder uma viagem que nos levaria a ser contemporâneos do futuro, ou seja, da sociedade consciente, justa e igualitária que é a estação final realizadora, na plenitude, do inestimável dom da vida.

Como escreveu Eça de Queirós, gigante entre os maiores, em seu formidável livro de reflexões NOTAS CONTEMPORÂNEAS, "a igualdade é decerto a maior evidência da civilização." Para obtê-la em toda a extensão, impõe-se a humildade dos gestos participativos e solidários, base de todas as grandes conquistas da humanidade.