sábado, 10 de novembro de 2018

Avenida Beira-mar, 1960, poema RCF






Sob mangueira da Beira-Mar,
quando todos os adultos faziam a sesta,
talas do mormaço imobilizaram a tarde.
Fez-se silêncio de torniquete.
A tarde eriçou o pelo das árvores.
Enorme, plácida, placentária
e úmida, regurgitava
a inquietação dos quietos,
enquanto já se consubstanciava a exaustão de inquirir
e a cantaria do calçamento
formigava esplêndida nulidade
diante da pedra absorta.

 
 
(do livro Eterno passageiro, Ed. Varanda, 2004)
 
imagem retirada da internet: silvio rocha

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