segunda-feira, 26 de outubro de 2020

A doença do mundo, poema RCF




Anda convalescente
e sua doença é o mundo.
Os sintomas de que sofre
do mal do mundo
aparecem no exame
de sangue dos jornais.
Os rins do mundo
urinam o cáustico
e as pedras do caminho.
Sua tosse é seca,
semiárida,
cheia de mandacarus,
zabumbas e mangues.
Há tempo de plantar o estado de sítio
e tempo de colheita dos  redemoinhos.
Seus pés de barro,
suas mãos pesadas,
seus dois braços esquerdos,
seus nervos de aço oxidáveis
sua cabeça mole,
tudo o impede
de se curar do mundo.

(de O difícil exercício das cinzas, 2014)
can dagarslani

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