sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Cera da manhã, poema RCF







Eis que a mãe
surge pela manhã.
Traz o tempo nas veias.
Sentada e imóvel,
ela é a melhor fotografia
tridimensional de si própria.
Tem medo de que
quem esteja ali sentada
seja inflamável
por ser uma cópia de cera.

A mãe o chama
e se incandesce.
É conversa que se consome
e bruxuleia,
ora pavio lúcido,
ora a cera do esquecimento.
Tem medo de que ela se esqueça
dele e, assim, ceráceo e ardente,
enrijecerá a infância,
serão últimos os primeiros passos
e morrerá vivo na memória
da mãe que o perdeu
dentro de seu labirinto
feito de museu e cera.



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