quinta-feira, 6 de agosto de 2020

O pântano, poema RCF




Não se sabe onde
se inicia a terra
onde termina a água;
sem margens,
o pântano
é mato encharcado,
é água barrenta.

O horizonte do pântano
não é linha de água
como no oceano
ou linha de terra
como nos pampas
– o horizonte do pântano
é o espanto dos ohs
na largueza dos afogados.

Anffíbio, bicho da terra e da água,
o pântano submerge
à imensidão das dubiedades.

O pântano,
roto
como tecido esgarçado,
tem suas margens –
margens que se
movem –
sem bainhas.

Assim, roto e esgarçado,
o pântano sai dos olhos
e encharca o homem que,
sem margens,
submergido à cultura dos bichos,
anfíbio e pastoso,
de horizonte indefinido,
apenas boia e sobrevive
ao temperamento das chuvas.




(do livro Terratreme, Brasília, Secretaria de Cultura do DF, 1998)


imagem retirada da internet:dali

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