quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Exília, de Alexandre Marino



O bom poeta Alexandre Marino acaba de lançar Exília, pela editora Dobra, de São Paulo. Abaixo, uma crítica de W.J.Solha sobre o livro de Alexandre:



São todos movidos, ao mesmo tempo, pelo desejo de mudança — de autotransformação e de transformação do mundo em redor — e pelo terror da desorientação e da desintegração, o terror da vida que se desfaz em pedaços. Todos conhecem a vertigem e o terror de um mundo no qual “tudo o que é sólido desmancha no ar”.
“Todos”, ele diz. Shakespeare, venerado por Marx, faz Hamlet se lamentar, ante a situação que vive (conforme tradução de Luís I, de Portugal):
Ultimamente, nem sei por que, perdi toda a minha alegria, renunciei a toda a especie de exercicio; e sinto na alma uma tal tristeza, que esta maravilhosa machina, a terra, me parece um esteril promontorio, este esplendido docel, o céu, esse magnifico firmamento suspenso sobre nossas cabeças, essa abobada sumptuosa, onde brilha o oiro de innumeras estrellas, tudo me parece um infecto monturo de vapores pestilentes.
E eis o “clima” de Exília, conforme seus melhores versos:
A cidade
é o lado de fora dos muros do cemitério.
(Definição de cidade, pág. 49)
Este é meu corpo (que) a cada retorno a ancestrais paisagens
descobre jamais ter estado lá.
(Amálgama, pág. 52)
Se nem meus limites
dão forma ao que sou,
onde procurar
o que não sou?
Infinitos Limites, pág. 60)
Quando me acerco da cidade sonhada
não está lá
(A cidade Sonhada, pág. 65)
Nunca estou onde estou.
(A cidade Sonhada, 65)
Atônito nada
sempre à espera.
(Nenhuma Nuvem, 67)
Homens perdidos entre lapsos de memória.
(Brasília sob a Neve, 68)
Correndo atrás do sonho que acabou.
(London sweet Londres, 71)
Criatura sem norte,
inventa perfídias,
sonhos e fábulas,
e diante da morte
erige catedrais
onde perde a alma.
(Dia das Caças, pág. 26)
Paredes nada sustentam,
não há imagem no espelho.
(Desconstrução, 102)
Aqui houve uma cidade.
(Desconstrução, 104)
E eis o seu momento mais Hamlet-Marx-Berman:
Há o cosmo, o universo,
e no entanto
todo o concreto se desvanece.
(O Velho Poeta, 107)
Nesse contexto, só a arte salva. Porque os poemas guardam/ o que outras vozes / emudecem. (Aquarela, 87)
Há um momento em que as luzes se apagam
e tudo se ilumina:
as razões incompreensíveis,
o caminho dos acasos,
a ordem do universo,
e os mistérios
impossíveis de enunciar.
(Cenário ao Fim da Tarde, 81)
Daí A luta por um lugar/ no poema.
(Palavras, 74)

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