segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Concreto, poema de RCF

miró





O imenso ventre roliço de ferro,
a batedeira cujas entranhas
são feitas de pedra e vômito de cimento,

ainda moles, no gestar do ato,
no desenho futuro da casa fixa,
este gesto não é o gesto de viver,

mas a sonolência dos impertinentes,
a insensatez das falésias que se abismam
ou o corte abrupto dos tratores

no exato ato de construir não mais a casa,
e, sim, a vida, cheia de cortes e abismos,
falésias ao café da manhã,

dormências de ventres roliços de pão e vazio,
as linhas da casa não projetada na própria vida
a casa aqui não é o útero,

além existem as estradas com suas curvas precipitadas,
desejos de abismos, vertigens de cimento e asco,
a imensidão do nada na batedeira

que mistura o risco de viver
e o traçado da casa que virá
ainda é apenas o projeto de vida,

sendo germinada no útero de ferro,
cimento, cascalho e náusea.

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